terça-feira, 24 de novembro de 2009

Pelas tabelas!

Vou me repetir um pouco... mas são coisas que ficam fervendo na cabeça e preciso escrever.


Este ano posso dizer que acompanhei um campeonato de futebol.
Nunca fui muito interessada pelo assunto, mas fui infectada pelo vírus que, dentre outros males, me faz sentar diante da televisão por 90 minutos e torcer por um time, acompanhar tabelas e programas cheios de comentários chulos.
Agora, faço um balanço do que vi além dos campos, dos passes, escanteios, impedimentos e gols.
Fiquei especialmente desencantada quando assisti a uma entrevista de Sócrates, ex-jogador do Corinthians, na qual foi questionado sobre a mudança que houve no futebol. É notável que já não há jogadores apaixonados pela camisa, e sim pelos contratos milionários. Isso faz com que troquem de time como trocam de cuecas. O que não vemos é a quantidade exorbitante de dinheiro desviado nessas transações mafiosas. O que fica, de fato, para o time que vendeu é muito pouco em relação ao que fica nas mãos dos atravessadores. Tanto que alguns clubes brasileiros fizeram, este ano, festas para seus torcedores mais afoturnados para, digamos, “arrecadar fundos”.
Mas a grande furada do futebol de 2009 foi a divulgação do escândalo europeu. 200 jogos, alguns dos campeonatos mais importantes do mundo, tiveram seus resultados manipulados e beneficiaram apostadores com cerca de dois bilhões de euros.
Por todas essas falcatruas e por me dar conta, há muito tempo, de como o ser humano pode ser ignorante e a tal ponto corrompido, começo a acreditar que nem as Olimpíadas de 2016 escaparão de uma situação dessas. Quem garante que todo o dinheiro disposto para tais gastos será efetivamente revertido para esse fim?
Chego a concordar com Juca Kfouri, colunista esportivo da Folha de São Paulo, que torceu para que o Rio de Janeiro não fosse escolhido como sede dos jogos.
Como um país que não oferece patrocínio e estrutura para seus próprios atletas pode oferecer seu espaço e seu dinheiro para um evento dessa magnitude? Como uma cidade que vive em guerra civil constante pode proteger as milhões de pessoas que virão para acompanhar os jogos? Se há como montar um forte esquema de segurança para o evento, porque não proteger, agora, os moradores da cidade? Enfim, esse já é outro assunto.

Mas, para todos os fins, vou recorrer aos bancos do Céu. É, pois Deus também é um grande patrocinador do esporte mundial. Segundo Caroline Celico, esposa do bom moço-garoto propaganda-jogador Kaká, “(...) O dinheiro do mundo tem que tá em algum lugar. E Deus colocou esse dinheiro na mão de quem? Do Real Madrid, pra contratar o Kaká. (...)”. Essa pérola está no youtube, para quem quiser ver.

Minha estréia como torcedora foi assim, um tanto decepcionante.
Vou continuar assistindo aos jogos e acompanhando as tabelas. Mas já sei que nem tudo que vejo é verdade, que aquele pênalti pode ter sido armado. Hoje, é difícil crer em tudo e todos, assim como é difícil fazer um gol olímpico.

Educação: bem durável ou descartável?

Não vou aqui, hoje, questionar o sistema de ensino, os milhões gastos, os desviados, e nem falar mal dos nossos hábeis governantes – embora tenha dúvidas sobre tais habilidades.
Mas, vou falar de educação. Sim, daqueles bons modos que nos foram ensinados em casa. Dos limites, direitos, deveres, das conseqüências de nossos atos, perante outro cidadão, igual a nós. É claro que as gêmeas, boa e má educação, andam de mãos dadas desde os primórdios da sociedade. O que tem me chamado a atenção é a falta de civilidade, é a vitória arrasadora da gêmea má.

Quero dividir uma reflexão.
No início dos anos 1960, mais precisamente em dezembro de 1961, em Niterói, RJ, houve uma grande tragédia. Um incêndio matou mais de 500 pessoas no circo “Gran Circus Norte-Americano”. Um homem, José Datrino, homenageou as vítimas plantando ali um jardim, onde morou por um tempo e se dedicou a confortar as famílias. Depois resolveu espalhar pelo país sua bondade e o real sentido de ser gentil. Surgia o Profeta Gentileza. Sua obra é, até hoje, muito importante para a cultura popular brasileira, sendo lembrada em canções como “Gentileza”, de Marisa Monte, e em ações sociais como “Gentileza gera gentileza”.
Não sei, na verdade, o quanto seus ensinamentos fizeram diferença na vida das pessoas que, desde muito antes, se veem inundadas pela tsunami do capitalismo e pela falta de tempo para um ‘obrigado’ ou ‘por favor’. Hoje, as cifras são mais bem vistas pela maioria dos olhos.
Não proponho que nos tornemos profetas ou que tenhamos a mesma atitude de Gentileza, afinal, essa grandeza, esse dom, não é para qualquer ser humano. Porém, gentileza gera gentileza.
Damos passagem ao pedestre ou a outro automóvel? Cedemos nosso lugar no ônibus, no metrô, na fila do banco? Um bom dia, boa tarde ou boa noite? Pedimos por favor, ou licença? Agradecemos?
Como disse Lenine, cantor pernambucano: “Gentileza é fundamental. Todo mundo tem direito à vida / Todo mundo tem direito igual”.
Ainda espero o dia em que a boa educação será a última tendência da moda, um bem valioso e atemporal, o qual todas as gerações desejarão possuir e exibir em todas as rodas sociais. A gêmea má será aquele jeans desbotado e puído no fundo da última gaveta.
Se após a reflexão percebermos que a mudança é inevitável, o que já é um ótimo começo, proponho um exercício prático. Mas não se assustem, não são abdominais, corrida ou qualquer outro esforço físico. É um exercício civil que ajudará tanto ou mais, a melhorar nossa qualidade de vida. Na rua, na padaria, no mercado, no quintal.
Olá, tudo bem, por favor, obrigado, até mais, tchau. Afinal, “todo mundo tem direito igual”

Quem quiser saber mais sobre o Profeta Gentileza, acesse: www.gentileza.net. Difunda essa idéia!